segunda-feira, 14 de abril de 2014

O pior erro é importar-se com os estaduais




O campeonato carioca se arrastou durante quatro meses infindáveis com um regulamento ridículo, jogos modorrentos e sem público. Por sorte da federação, a final calhou de ser entre os times das duas maiores torcidas, o que gerou atração desproporcional ao valor da competição. A incompetência vergonhosa do Flamengo de ser eliminado da Libertadores caiu do céu para a federação: motivando o rubro-negro a descontar a frustração no rival, em paralelo, o Vasco tinha a melhor oportunidade em tempos de tirar a alcunha de "vice", aproveitando o mau momento do Mengo.

O primeiro jogo da final foi chato e ruim, o segundo jogo conseguia durante o primeiro tempo ser ainda pior. Até os famigerados apitadores aparecerem. Primeiro, expulsando um jogador para cada lado, sem necessidade, senão os holofotes, depois com o erro crasso do impedimento no gol nos acréscimos. Resultado: jogo polêmico, dramático e emocionante. O carioqueta foi salvo na bacia das almas.

O desinteresse pelos estaduais não é uma prerrogativa carioca. Por todo o país, os estaduais são chatos, com pouco público e confusos (quem entende o regulamento do Catarinense ou a função da Taça Rio?). Os campeonatos estaduais não despertam paixão ou rivalidade mais, no máximo um brevíssimo motivo para beber. Resultando, frequentemente, em um porre prejudicial à Libertadores.

Então por que não acabam ou são, pelo menos, reformulados profundamente?

São fundamentais na estrutura de poder do futebol nacional. As federações estaduais só existem por conta dos estaduais, sem os torneios, ainda que xinfrims, as federações não teriam razão de ser. Fora "organizar" as competições regionais o que faz as federações estaduais? O poder, formam o colégio eleitoral da CBF. Eis o cerne da questão. Acabando as competições mixurucas, ou sendo reduzidas a menos de oito, dez datas, as federações seriam vistas como sem importância, desnecessárias, não tendo sentido serem protagonista de decisão primordial do futebol nacional: a definição dos cartolas da CBF. A eleição da CBF, marcada para o próximo dia 16, tem seu colégio eleitoral formado pelas 27 federações estaduais e pelos 20 clubes da primeira divisão. Se os clubes, que possui torcedores, fechassem em torno de um nome seriam derrotados caso a federação, que possui apenas aspones, escolhessem outro.

No momento em que alguns clubes, como o Inter, o Grêmio, o Bahia, o Palmeiras, o Cruzeiro, iniciam tímidos movimentos de democratização, aumentando o poder e o número dos votantes, os estaduais são trincheiras da estrutura hierarquizada e do poder aristocrático da CBF, outorgado pelas federações.

Imaginemos um mundo sem estaduais, logo sem federações, os clubes decidindo o destino do futebol brasileiro. Em consenso e bom senso, decidem romper o monopólio da transmissão televisiva, colocando os jogos em novos horários, por exemplo 20h 45 min ou 21h, na hora da de certo jornal e da novela. A emissora que perdesse esse monopólio (como já sofre com a perda do monopólio da Libertadores) certamente perderia audiência e, consequentemente, dinheiro, logo perderia dinheiro também, e com isso, acabaria uma boa parte do seu poder político...

O pior erro do juiz foi dar emoção ao campeonato tosco. Não deixamos que ele prejudique a clara noção de um torneio deprimente, sem charme e sem graça, cuja a transmissão é alicerce do poder. Já passa da hora de acabar ou mudar drasticamente. Que o erro de julgamento também não seja nosso.