Foi um mês de junho inesquecível: revoltados de todos os
tipos proporcionaram dias de apreensão à cidade, por reivindicarem o que era
seu por direito. Eram vândalos. A pauta era a liberdade de crença, a expulsão
das casas, a miséria e a fome contrastantes com o luxo que ostentavam os ricos
e poderosos. A elite ignorante teve que rever conceitos e fazer concessões a
aqueles pobres. A atitude dos vândalos precipitou o fim de um sistema político cuja
decadência já era evidente. O ano era 455 e a cidade, Roma.
“Vândalo” tem sua etimologia ligada ao termo germânico “walden”,
que significa “vagar”. Os povos germânicos que migravam em desesperada
necessidade, fugindo da guerra, fome e miséria eram, portanto, os “Vândalos”. Vândalos
são vagamundos. Não é de hoje que a migração é um problema para a elite. Não é
de hoje que fome, miséria, violência, exploração e expulsão são problemas para
o pobre. Não por acaso as migrações germânicas são chamadas de “invasões bárbaras”.
Quem inventou esse termo?
Entre períodos de paz e de guerra, entre acordos e batalhas,
os vândalos se misturaram com os outros povos e se consolidaram no norte da África
e por toda Europa. A peculiaridade daquele junho, jamais foi esquecida: o termo
“vandalismo” é criado, em 1794, por um bispo francês durante a Revolução
Francesa. Após ver a destruição de imagens do velho rei, declara: ”inventei a
palavra para impedir o ato”. O uso e abuso da história: o bispo que alegava querer
defender a história não se importa em distorce-la. Qualquer
semelhança com a invenção do termo “terrorismo” não é mera coincidência.
O sangue vândalo corre em nossas veias abertas. Em junho, há de ferver.