Separación de los hombres de los
niños - Não há o que discutir, os melhores jogadores do mundo jogam nos
melhores estádios-arenas do universo quando disputam a UEFA Champions League. Ao
tocar o poliglota hino da Champions, é quase certo um grande confronto técnico
e tático. Pela soma desses fatores, a competição européia de clubes é a mais
famosa e a mais pelo vista mundo a fora, incluindo o Brasil. A constatação da
qualidade do continental europeu não deve ser enxergada, no entanto, por um
viés restritivo que assume hoje: muitos afirmam que o futebol só existe por
aquelas bandas e o resto é lixo. Noves fora o complexo de vira-lata da parte
sul do planeta, quem defende a supremacia da UEFA ignora o torneio mais difícil,
mais brigado e mais foda do planeta: a Taça Libertadores da América.
A
competição da América do sul não tem Messi ou Cristiano Ronaldo, nem o Old
Trafford, nem a organização e nem o glamour da Champions. O torneio sudamericano
tem jogos que os horários são alterados em cima da hora, tumulto na chegada do
ônibus, chuva de papel picado e de papel higiênico, sinalizadores coloridos
queimando em fúria (ainda!), gramados que são pastos, jogadores comuns, intimidação aos árbitros,
torcedores alucinados, cartão amarelo que vale uma multa ridícula (U$ 80 por
cartão amarelo) e não suspensão e, o maior símbolo do romantismo latino no
futebol, a clássica barreira de escudos policiais para proteger o cobrador na hora
da cobrança do escanteio.
O sentimento
Latino é pelador, brigador, quer a luta garrida; o sentimento nacional de cada
país é oposto, mais sóbrio, menos exaltado. Claro que sobram raça e paixão no
disputado campeonato argentino ou no uruguaio, mas o sangue ferve até os olhos
somente na e pela Libertadores, como atestam os cantos das hinchas de Boca,
Peñarol, Cerro ou Universidad, sempre recordando ou desejando a competição.
Na
Europa, são diferentes as motivações, o sentimento europeu comum é o
civilizatório, racional, modelo para o planeta; o sangue esquenta como um
latino somente no latente nacionalismo. A crise econômica demonstra que o
nacionalismo, ao contrário da visão do eurosonho, está presente demais.
Comparemos
duas análises regionais da época do nascimento do futebol. O escritor Eduardo
Prado critica com veemência o pan-americanismo, em A Ilusão americana, em 1893: “Onde
é que se foi descobrir na história que todas as nações de um mesmo continente
devem ter o mesmo governo? E onde é que a história nos mostrou que essas nações
têm por força de serem irmãs? (...)A fraternidade americana é uma mentira.
Tomemos as nações ibéricas da América. Há mais ódios, mais inimizades entre
elas do que entre as nações da Europa”
A Turquia ainda é não-européia |
No mesmo período
o bigode europeu de Nietzsche profetizava em Humano, demasiado humano : “O homem europeu e a destruição das
nações – O comércio e a indústria, a
circulação de livros e cartas, a posse comum de toda cultura superior , a
rápida mudança de lar e de região, a atual vida nômade de quem não possuem
terras - essas circunstâncias trazem
necessariamente o enfraquecimento e por
fim a destruição das nações, aos menos
das europeias: de modo que a partir delas , em consequência de contínuos
cruzamentos, deve surgir uma raça mista, a do homem-europeu”. Esse “homem-europeu” é o torcedor que paga, no
mínimo, mais de 70 euros para assistir a um jogo, pega o eurotrem sem cantar uma música ,esse é
o torcedor que exige assentos aquecidos ao invés de pular o jogo todo para se
aquecer, falando em aquecer, ai da organização se o chá desse torcedor estiver
morno. Tudo de acordo com o espatáculo plástico. Nada mais justo que o Chelsea
e a sua moderninha torcida, mais interessada no Iphone do que no jogo seja campeão.
Sintoma crasso de uma Europa com valores
em crise? Talvez. Ao sul do equador, onde
o pecado continua legalizado, a final é entre os maloqueiros do Corinthians
contra os ensandecidos xenezies do Boca. Melhor assim.