quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Libertadores é melhor que a Liga dos Campeões




                                                                          
Separación de  los hombres de los niños - Não há o que discutir, os melhores jogadores do mundo jogam nos melhores estádios-arenas do universo quando disputam a UEFA Champions League. Ao tocar o poliglota hino da Champions, é quase certo um grande confronto técnico e tático. Pela soma desses fatores, a competição européia de clubes é a mais famosa e a mais pelo vista mundo a fora, incluindo o Brasil. A constatação da qualidade do continental europeu não deve ser enxergada, no entanto, por um viés restritivo que assume hoje: muitos afirmam que o futebol só existe por aquelas bandas e o resto é lixo. Noves fora o complexo de vira-lata da parte sul do planeta, quem defende a supremacia da UEFA ignora o torneio mais difícil, mais brigado e mais foda do planeta: a Taça Libertadores da América.
                A competição da América do sul não tem Messi ou Cristiano Ronaldo, nem o Old Trafford, nem a organização e nem o glamour da Champions. O torneio sudamericano tem jogos que os horários são alterados em cima da hora, tumulto na chegada do ônibus, chuva de papel picado e de papel higiênico, sinalizadores coloridos queimando em fúria (ainda!), gramados que são pastos,  jogadores comuns, intimidação aos árbitros, torcedores alucinados, cartão amarelo que vale uma multa ridícula (U$ 80 por cartão amarelo) e não suspensão e, o maior símbolo do romantismo latino no futebol, a clássica barreira de escudos policiais para proteger o cobrador na hora da cobrança do escanteio.    
O sentimento Latino é pelador, brigador, quer a luta garrida; o sentimento nacional de cada país é oposto, mais sóbrio, menos exaltado. Claro que sobram raça e paixão no disputado campeonato argentino ou no uruguaio, mas o sangue ferve até os olhos somente na e pela Libertadores, como atestam os cantos das hinchas de Boca, Peñarol, Cerro ou Universidad, sempre recordando ou desejando a competição.
  Na Europa, são diferentes as motivações, o sentimento europeu comum é o civilizatório, racional, modelo para o planeta; o sangue esquenta como um latino somente no latente nacionalismo. A crise econômica demonstra que o nacionalismo, ao contrário da visão do eurosonho, está presente demais.
Comparemos duas análises regionais da época do nascimento do futebol. O escritor Eduardo Prado critica com veemência o pan-americanismo, em A Ilusão americana, em 1893: “Onde é que se foi descobrir na história que todas as nações de um mesmo continente devem ter o mesmo governo? E onde é que a história nos mostrou que essas nações têm por força de serem irmãs? (...)A fraternidade americana é uma mentira. Tomemos as nações ibéricas da América. Há mais ódios, mais inimizades entre elas do que entre as nações da Europa
A Turquia ainda é não-européia
No mesmo período o bigode europeu de Nietzsche profetizava em Humano, demasiado humano : “O homem europeu e a destruição das nações – O comércio e a indústria, a circulação de livros e cartas, a posse comum de toda cultura superior , a rápida mudança de lar e de região, a atual vida nômade de quem não possuem terras  - essas circunstâncias trazem necessariamente o enfraquecimento e  por fim a destruição  das nações, aos menos das europeias: de modo que a partir delas , em consequência de contínuos cruzamentos, deve surgir uma raça mista, a do homem-europeu”.  Esse “homem-europeu” é o torcedor que paga, no mínimo, mais de 70 euros para assistir a um jogo,  pega o eurotrem sem cantar uma música ,esse é o torcedor que exige assentos aquecidos ao invés de pular o jogo todo para se aquecer, falando em aquecer, ai da organização se o chá desse torcedor estiver morno. Tudo de acordo com o espatáculo plástico. Nada mais justo que o Chelsea e a sua moderninha torcida, mais interessada no Iphone do que no jogo seja campeão.  Sintoma crasso de uma Europa com valores em crise? Talvez.  Ao sul do equador, onde o pecado continua legalizado, a final é entre os maloqueiros do Corinthians contra os ensandecidos xenezies do Boca. Melhor assim.