O Barcelona é
o melhor time do mundo, mais do que isso, é um dos maiores times de todos os
tempos. O jeito de jogar com a posse de bola quase permanente permitindo que os
passes sejam cumpridos à medida que são dados é inédito, pelo menos neste grau
de eficiência. A equipe comandada por Guardiola tem tamanha noção coletiva que
deveria ser inspiração para os socialistas, como argumenta o genial Torero: “o time tem um planejamento central forte,
feito por Pep Guardiola, que conhece bem seus recursos naturais e os utiliza de
forma racional para o bem comum. Há também uma certa abolição de classes. Não
há mais uma separação nítida entre zagueiros, meio campistas e atacantes.
Principalmente entre estes dois últimos. Messi pode ser visto na ponta direita
e zanzando como volante, Fábregas é um meio-campista mas aparece para
finalizar, Dani Alves é um lateral que mais parece um ponta. Assim sendo,
obviamente temos a propriedade coletiva dos meios de produção do gol, pois
todos podem, e devem, atacar.” Torero inclusive lembra o papel da cidade de
Barcelona na resistência a Franco durante a guerra civil, flertando com o
anarquismo, movimento presente também no time do Barça: “Quanto à pitada de anarquismo, vem da mobilidade decidida pelos
próprios jogadores dentro de campo. Não é “cada um faz o que quer”, como se
pensa erradamente sobre o anarquismo, mas um conjunto orgânico, que funciona
como um ser vivo, com cada indivíduo se comportando como a célula de um grande
organismo.” Portanto, nas palavras do escritor fica claro que o atual
fantástico Barcelona não é uma referência apenas de excelência esportista, seu
desempenho em conjunto é parâmetro para toda forma de empreendimento, do político
ao artístico.
Alguns saudosistas
gostam de atribuir ao time do Guardiola à alcunha de “herdeiro do futebol
antigo” ou até “vingador da seleção brasileira de 82”. Pensam que o Barça é uma
revanche contra o futebol feio e eficiente praticado hoje. Trate-se de uma falsa
dicotomia: o caminho mais fácil para a vitória é ter a posse de bola. Além da maior
possibilidade de marcar, manter a bola reduz as chances de gol do adversário e
o cansa, pondo-o para correr atrás. O futebol do Barça não é parnasiano,
alcança seus objetivos pelo caminho que dispõe. A beleza é uma feliz consequência.
Uma estratégia válida |
Só o futebol
possibilita ao time inferior vencer mesmo jogando pior. No atletismo o melhor é
posto a prova em todas as disputas: quem corre, salta, pula ou arremessa menos
é pior. Simples assim. Em outros esportes coletivos como vôlei e basquete, o
pior pode até vencer, mas só se jogar melhor, se obter as melhores estáticas. A
seleção americana de basquete é a melhor, mas perde, pois joga pior. A diferença
técnica presente no basquete e no vôlei se faz presente, no entanto, em um
play-off na melhor de três, cinco ou
sete jogos.
O time de Messi perde: tudo é possível |
O Barça
é o melhor time do mundo, joga melhor e... pode perder, só porque o jogo no
qual é brilhante chama-se futebol. O Barcelona Fútbol Club não precisa de mais
conquistas para sua consagração. O futebol precisa se renovar através das
surpresas que se superam e fazem do certo o duvidoso e do impossível o destino.
Isso possibilita ao esporte ser único, capaz de lições raras. Como outras
expressões artísticas o futebol dá vida ao conhecimento, tornando seus
ensinamentos mais valiosos que a própria verdade transmitida.
Nada mais
didático do que uma belo fracasso aliás, porém tal aprendizado é mais
proveitoso para quem tem a capacidade de se reinventar. É o caso do time de Pep,
que se reinventou em 1999, em 2004, em 2007 e em 2009, só para ficar nas mudanças
recentes. Em todos os casos saindo do ótimo para o fantástico, e deste para o
melhor. Se dependesse daqueles saudosistas, meritocratas conservadores, o
melhor time do planeta seria ainda o Sheffield United. Não havendo nem o Santos
de Pelé ou a Laranja mecânica holandesa, com suas respostas inovadoras fomentadas
por derrotas. Só os grandes sabem se remodelar assim, só os maiores não perdem
a soberania após os insucessos.
Vencer sendo
reconhecidamente mais fraco não torna a vitória mais vitoriosa? Não é o que
ensina o mito de Davi contra Golias? Ou as histórias gregas nas quais homens usando
a sapiência conseguem derrotar titãs e ludibriar deuses? A derrota faz do
gigante menor ou da divindade menos sagrada?Que o Barça seja sempre espetacular, para que quando cair, tombe de pé, dando ao vitorioso um pouco da glória que já possui. Há grandeza em azul-grená suficiente para isso. Sem que haja o choro rancoroso dos conservadores.
Na copa de 54 primeiro jogo ocorre o certo, no segudo a história |