Nesse ano de 2012, Spike
Lee, diretor do filmaço "Malcom X", está realizando uma série de
viagens ao Brasil, onde realiza um documentário sobre o país que se transforma.
Ou pelo menos tenta um pouco. A escolha de Spike foi entrevistar diversas
personalidades, de Dilma a Romário, passando pelo Caetano. A mídia no seu papel
habitual de desinformação categórica destaca as entrevistas, não o filme. Tomam
o meio pelo objetivo, anunciando nas manchetes que o diretor veio ao país para
as entrevistas. Querem esquecer o filme, pois o tema lhes é maldito: a questão
racial no Brasil.
1989, Não somos racistas |
“Que questão?” “Que racismo?”
Perguntaria Ali Kamel, autor de (sic) “Não
somos racistas”, livro que prega o banimento de qualquer política de ação
afirmativa no Brasil, por que, como expõe o título não há racismo por aqui.
Inspirando-se em Gilberto Freyre, Kamel tenta estabelecer novas ideias sobre a
natureza da miscegnação nacional. A diferença é que Ali não tem o mesmo talento
que Freyre, entretanto tem bem mais poder. Ali Kamel é diretor de jornalismo da
Globo, a eterna casa-grande da imprensa brasileira.
Ali Kamel e sua obra |
A voz da casa-grande é a
única que se ouve na senzala. Spike Lee escolheu cirurgicamente o momento do
julgamento da constitucionalidade das cotas para abrir seu filme, o que passou
escandalosamente batido nos grandes meios. Um dos maiores diretores da atualidade
enxerga uma mazela na sociedade brasileira, vem aqui discuti-las de maneira
aguda e a repercussão é mínima. “Velozes
e Furiosos 5”, rodado também no Brasil teve cobertura diária das gravações,
só para efeito de comparação. Mesmo não merecendo a mesma atenção que um
blockbuster do Van Disel, fica evidente um boicote à película de Lee por conta
da sua temática.
“Não é Spike Lee que vai colocar à tona o que varremos para deixo do
tapete” pensa os comandantes da re(d)ação conservadora às cotas. E de fato, pelo
menos ainda, nem o diretor nem ninguém conseguiu colocar o debate na pauta do
dia.
Spike Lee curte um bom basquete, nesta com Henry |
O último 13 de Maio é
sintomático nesse aspecto. Começando antes, durante a semana anterior, o
congresso votou mais uma vez a PEC do trabalho escravo que tipifica e amplia as
punições para o trabalho escravo. O projeto está há onze anos na câmara,
terceira legislatura,e, mais uma vez, foi derrotado. “Porque? Como um projeto contra o trabalho escravo é tão indesejado? Por
Quem?”. São perguntas que deveriam ser feitas. No aniversário da assinatura da Lei Áurea,
não é feriado, por sinal, quase nada foi dito ou lembrado. Ofuscado pelo
comercailissímo dia das mães, a data da libertação dos negros escravizados foi
solenemente ignorada. Poucas comemorações oficiais, nenhuma reportagem, por
fim, esquecimento obrigatório. Deveria ser lembrada.
Resta
uma esperança, Spike Lee voltou aos EUA para acompanhar os New York Knicks nos
play-offs da NBA. A equipe de NY já caiu fora. Lee já esta voltando com novos
olhares sobre nossas memórias. Devemos ver, para não esquecer os futuros 13 de
Maio do Brasil.
Spike Lee colocou o Inimigo Público lutando contra o poder para abrir "Faça a coisa certa"...