sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A corrupção que interessa a Veja

A serpente pode ficar
A mídia odeia a política, não a corrupção - A grande mídia trata da corrupção como uma prática exclusiva dos políticos. Todos os outros setores da sociedade são imunes, iniciativa privada, sociedade civil e mídia, ninguém é corrupto, só os políticos. Não é uma apologia da corrupção, nem justificar um erro com outro, mas quem corrompe também é corrupto. Deus culpou a mulher, puniu o casal, mas deixou livre a serpente. Essa é a lógica bíblica do combate à corrupção.

Milton Santos afirmava: A cidadania no Brasil nunca foi composta, a elite quer privilégios; os pobres não tem direitos. O poder no Brasil está intimamente ligado as vantagens que o privado consegue no público.O poder político é o poder do dinheiro. Quem tem dinheiro corrompe quem não tem, ou pelo menos quem quer mais. Em todos os níveis da sociedade. Ignorando a corrupção rotineira, grandes jornais e revistas lançam mão do velho discurso moralista bobo: “Nós os bons e honestos contra eles, os maus e corruptos. De qual lado você está?
Ninguém me salvou não


O destino não é para o seu bico - A Veja saúda os manifestantes das passeatas contra a corrupção como o “Brasil decente que se levanta” ou “o cidadão-em-si-mesmo” (Kant comigo direita?), reconhecendo nestes uma “esperança para o país”. A mesma publicação chama os ocupantes de Wall Street de “boçais”, “desocupados” e “vagabundos”. Esses desqualificados, como os trata a revista amiga da CBF, são vítimas da crise econômica, que tem umas das suas raízes na... corrupção. Basta recordar que fraudes em balanços e desvios em fundos de pensão foram agravantes para a crise do capital financeiro. Milhares de trabalhadores perderam o emprego, famílias perderam as casas e sociedades perderam direitos consolidados à saúde e educação gratuitas e universais, por exemplo. “Vagabundos como ousam almejaram serem protagonistas da própria vida afrontando o Deus-mercado?” 

Arruda, herói da Veja
A CBF fica na Rua Victor Civita – Victor Civita foi o americano que fundou a Ed. Abril e a revista Veja. Hoje sua memória continua viva na defesa semanal dos interesses americanos realizada pela Veja. Também é nome de Rua no bairro onde a Veja e sua mentalidade prevalecem, a Barra, a Miami carioca. Para essa rua se mudou a Confederação Brasileira de Futebol. A Veja que adora atacar a corrupção se cala perante as jogadas, internacionalmente reconhecidas, de Ricardo Teixeira, o “Ricky Trick”. Nunca um endereço foi tão emblemático.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Joselito do Bem e o Politicamente correto

Ele não sabe brincar, ele é chato, ele não tem noção, ele é o Joselito do bem. Enquanto, você e seus amigos inocentemente assistem a uma luta do Anderson Silva, Joselito do Bem puxa o fio da tomada, dizendo: “Isso é uma barbaridade. Estamos regredindo. Esse sangue todo vermelho no chão...” Não adianta tentar impedi-lo, ele define o que é certo e errado. Quando se podia fumar em áreas reservadas dentro de bares, Joselito se indignava em chiliques histéricos: “Meu ar puro... meu pulmão ficará preto!” Ainda que em lugares abertos, se irrita com os fumantes, faz beicinho e pondera consigo mesmo: “Quem fuma não pode ficar em paz” Joselito persegue o fumante até que ele apague o acesso. A vontade de Joselito é sempre o melhor para todos. Ele sabe disso. 

 Em restaurantes, Joselito não perdoa quem o acompanha e come carne: “Sabe como essa criatura sofreu para chegar ao seu prato e encher sua barriga gorda?” Não importa se a pessoa come sushi ou carne de um boi que morreu de tristeza, Joselito não aceita. 



Joselito ama a natureza, compra pneu feito de borracha malaia reciclada para sua bike, mas não anda muito para não suar. Joselito ama tanto a natureza que mesmo sendo apolítico votou na Marina. O Joselito é um ser democrático e pluralista. Afinal, só ele sabe o que é democracia e pluralidade. E quem discordar merece pancada.

Politicamente Correto – Invenção das corporações

Naomi Klein, em Sem Logo: a Tirania das Marcas em um planeta vendido, testemunha o nascimento das chamadas “guerras do politicamente correto”.Klein relata que no final dos anos 80 empresas como Microsoft e Nike aproveitam a crista da onda neoliberal para terceirizar suas produções, mudando a ideia do que deve ser uma marca: “o que essas empresas principalmente produziam, diziam eles, não eram coisas, mas imagens de suas marcas” Através dessas imagens, as grandes marcas conseguiram dominar o mundo, vendendo tudo para todos.
Luta de clases: obsoleta

Essa proeminência do capitalismo corporativo era um resultado evidente do fim da URSS e da queda do comunismo. Não havia oposição, o mundo todo era um mercado para comprado e vendido, todo país deveria ter o direito de ser globalizado. Klein conta, melancolicamente, que as corporações invadiram as universidades sem obstáculos. As únicas resistências eram das minorias tradicionalmente excluídas: mulheres, negros, judeus e latinos exigiam que as corporações, a nova forma de poder total, dialogassem com eles. As corporações, pela primeira vez, ouviram essas minorias e as incorporaram tanto a imagem, quanto ao consumo. A lógica era simples: As minorias lutavam não mais por idéias obsoletas e sim por uma nova forma de representação delas, a partir dessa surgirá uma nova forma de imagem e assim uma nova forma de entendimento das minorias. A mídia mudando a imagem das minorias, faria os preconceitos desaparecerem, sonhavam os estudantes.  O politicamente correto como agente transformador da realidade, estabelecendo identidades. Ledo engano. 

O marketing de identidade - As grandes empresas de comunicação, publicitários e marqueteiros estavam atentos a esses movimentos de contestação, dividido em sub-culturas, rapidamente se tem o marketing da identidade. Se era diversidade que os jovens queriam, diversidade eram o que teriam. A busca da identidade através da diversidade se tornou necessidade de mercado. Uma marca que desejasse ter sucesso, conquistar consumidores deveria cair de cabeça na diversidade. Dessa forma, a marca Gap estampou campanhas com gays se beijando e a Nike utilizava a imagem de Tiger Woods como símbolo da “resistência”. Definitivamente, as políticas de identidade não estavam combatendo o sistema, ou mesmo subvertendo-o.

O mercado se apoderou do movimente politicamente correto da mesma forma que se apoderou da cultura jovem de maneira geral: como fonte de novas imagens carnavalescas. $$$$$


Todo mundo pode ser feliz, basta comprar
Para a cátedra do Twitter - “A verdadeira culpa do politicamente correto”escreveu o professor de literatura da Universidade de Nova York em 1991 “não é a sua suposta intolerância ou rigidez, mas que não é suficientemente político - é a personalização da luta política.” O politicamente correto treinou uma geração de militantes de imagens não de ações.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Simples lições do futebol #43


Sporting x Lazio
Ás vezes de onde mais se espera, acontece nada; e de onde não se tem nenhuma pretensão, surge o extraordinário. Uma lição que o futebol é pródigo em demonstrar. A última aula de vida do futebol foi no segundo jogo da fase de grupos da bem chata Liga Europa.


 A partida era Sporting Lisboa contra o time romano da Lazio, o jogo estava 2x1 para a equipe lisboeta, que marcou os tentos na etapa inicial. No segundo tempo, quem pressionava e mandava no jogo era o time italiano, em função da expulsão de um jogador do time português. Tal pressão resultou em dois lances que os romanos reclamaram veemente de pênalti. A reclamação foi tão taxativa que o arbitro expulsou o técnico da Lazio, o esloveno Edoardo Reja, ainda no inicio do segundo tempo.  Nesse momento, acontece um fato único que mostra um pouco do que o futebol em seu caráter lúdico e fantástico tem a oferecer ao mundo. O treinador da Lazio expulso tem que acompanhar o restante do jogo da arquibancada do Alvalade, junto com a torcida dos Sporting. Uma previsão realista é que não terminaria bem o técnico rival no meio da torcida adversária. No entanto, o jogo jogado joga para escanteio a realidade e fica com a magia sincera. Os Leões, torcedores do Sporting, e o treinador Reja são apaixonados por futebol e por isso, se divertem com a situação.

Torneio chato
Como o time italiano perdia o jogo e tinha um atleta a mais, atacava ferozmente contudo os bons atacantes em péssima tarde perdia um gol atrás do outro. Da arquibancada, Edoardo Reja entrava em desespero a cada chance desperdiçada e os torcedores do Sporting... o consolavam. Claro que não houve captação do áudio, mas os gestos e sorrisos dos torcedores lusos pareciam dizer “Calma lá, futebol é assim”. O técnico respondia com sorrisos também, parecendo explicar como o atacante deveria ter procedido no lance. Assim seguiu, durante todo o restante do jogo: Lazio atacando, jogadores perdendo gols fáceis, técnico desesperado mas rindo e sendo confortado pelos próprios rivais.   

Um jogo bom, mas até certo ponto insignificante, que poderia passar batido se não fosse esse fato. De um Sporting X Lazio despretensioso, o futebol dá uma aula de tolerância a risos e simpatia.

                                      Aos 4:40 do video abaixo, os atacantes da Lazio perdem chances consecutivas e Reja é consolado pelos adeptos:



Em entrevista ao ótimo site luso Mais futebol, Edoardo Reja foi questionado sobre o fato inusitado:
 Quando esteve na bancada, o que disse aos adeptos do Sporting?
Nada de especial, eles benzeram-se quando desperdiçamos aquela oportunidade que foi à barra. Disseram que grande sorte. Depois trocámos algumas opiniões e até nos rimos no final. Quero agradecer a esses adeptos porque foram muito queridos comigo. Nas oportunidades que desperdiçámos, vinham consolar-me, foram muito simpáticos”.